Há um longo debate entre terapeutas, pesquisadores e pais de crianças com transtorno do espectro do autismo (TEA) sobre o número de horas de intervenção necessárias para resultados ideais em crianças pequenas com TEA. A premissa é de que o tratamento intensivo, iniciado em uma idade precoce, levará a resultados melhores e, de fato, há uma série de estudos que demonstraram melhores resultados para crianças com TEA que receberam algo entre 15 e 40 horas semanais de intervenção comportamental (Dawson et al., 2010; Eikeseth, Smith, Jahr, & Eldevik, 2002; Granpeesheh, Dixon, Tarbox, Kaplan, & Wilke, 2009; Sallows & Graupner, 2005).
A origem dessa recomendação remonta os estudos originais de Lovaas (1987) e vem sendo defendida, principalmente nos meios ligados a análise do comportamento (ABA). Recentemente, o BACB (Conselho de Certificação de Analistas do Comportamento), que rege o credenciamento dos profissionais que empregam ABA, divulgou diretrizes que recomendam a prestação de serviços em ABA, com dois níveis de suporte: 10-25h por semana para indivíduos que precisam de tratamento para um número limitado de alvos comportamentais e ABA abrangente, com 30-40h por semana, para tratamento de crianças com necessidades em vários domínios de desenvolvimento, como cognição, comunicação social, emocional e funcionamento adaptativo.
No entanto, vários autores vem questionando os dados que levaram a essas recomendações de carga horária intensiva e sugerem que simplesmente aumentar o número de horas de não é necessário nem mesmo apropriado para todas as crianças e famílias. Dada a grande heterogeneidade entre as crianças com autismo, é improvável que todas as crianças exijam a mesma intervenção, ou ainda a mesma quantidade de uma intervenção.
É fundamental que a recomendação do número de horas de tratamento leve em consideração as características da criança (idade, perfil sensorial, nível de linguagem e cognição, intensidade dos comportamentos repetitivos, comorbidades, entre outros), o contexto da família (renda, disponibilidade de tempo, suporte da família ampliada, envolvimento e desejo de se envolver ou não diretamente no tratamento) e a disponibilidade e qualidade das terapias e profissionais disponíveis na região.
Algumas crianças podem precisar de alta intensidade no início e depois diminuir com o tempo à medida que melhoram. Exigir que as famílias se comprometam com um número mínimo de horas definido arbitrariamente pode levar a um aumento estresse para os pais que já sofrem o suficiente, o que pode, por sua vez, prejudicar os resultados da criança.
Estudos de longo prazo indicam que cerca de metade de todas as crianças com autismo fazem progressos significativos com intervenções intensivas precoces que requerem pelo menos 20 horas por semana. Outras crianças têm um progresso mais lento, com cerca de 30% permanecendo minimamente verbal na idade escolar, apesar de intensivo tratamento. No futuro, à medida que avançamos em direção a uma maior personalização da terapia, poderemos melhorar esses números se pudermos identificar os ingredientes ativos de uma terapia, aqueles que realmente fazem a diferença, incluindo a dose, e como esses fatores variam de acordo com a gravidade e as características do autismo.