Uma das coisas que confundem as pessoas sobre o diagnóstico de autismo é baseada num mito, totalmente irreal, de que indivíduos com autismo não tem afeto. Nonsense.
Autismo não tem nada a ver com afeto. A imensa maioria das crianças autistas é carinhosa, apegada aos pais e irmãos, amorosa com pessoas da família. Muitos gostam de estar perto, de estar no colo, de dar e receber beijos. Afeto não define autismo.
O que realmente está na base do autismo é a orientação social e o processamento de informações. São esses os elementos que, desequilibrados, terminam resultando nos “atrasos” observados nas crianças com TEA. As bases neurobiológicas ou redes neurais relacionadas a sentimentos e emoções não estão envolvidas diretamente no transtorno. Do pouco que se sabe, o comprometimento é fundamentalmente de dois sistemas:
- Processamento de informações: especialmente as informações básicas, de natureza sensorial, parecem ser processadas de forma diferente no cérebro autista. Informação sensorial é tudo aquilo que chega ao nosso cérebro pelos órgãos dos sentidos – visão, audição, paladar, tato, olfato, mais os sistemas vestibulares (equilíbrio) e proprioceptivo (localização do próprio no espaço). Como a informação é processada diferente, a resposta ao estímulo também é diferente. Muitos (mas muitos mesmo!) sintomas do TEA são explicados ou explicáveis por alterações sensoriais.
- Atenção: o outro pilar são os sistemas atencionais. No TEA, há uma menor orientação social (a criança olha menos para as pessoas) e um maior foco de atenção em objetos. Crianças autistas com frequência direcionam e fixam sua atenção em coisas que, para nós, não tem saliência. Não conseguimos ver o que eles veem e, se vemos, elas não despertam nosso interesse da mesma forma. Eles, porém, sentem-se fascinados (e felizes) com alguns objetos. Isso pode se manifestar na forma como a criança olha para o objeto, como se inspecionasse algum detalhe, um movimento, um reflexo da luz. Objetos, em geral, são fixos, estáticos ou a sua manipulação é previsível e controlável. Esse tipo de situação é preferencial ao cérebro autista – se comparado a situação (imprevisível, variável e incontrolável) das reações humanas numa interação qualquer. O cérebro autista gosta de padrões, de ordem, e a vida aqui fora, convenhamos, não oferece nada assim.