Vejo que muitos colegas ainda prescrevem “ABA” ou “Denver” quando orientam o início de terapias para crianças com autismo ou suspeita de TEA. Os pais, por sua vez, terminam sem saber: afinal, o que é melhor pro meu filho? Denver ou ABA?
A resposta é nem um, nem outro. É a combinação de ambos, e mais.
- ABA não é um método, mas uma ciência que estuda o comportamento e como modificá-lo; técnicas de ABA foram utilizadas no primeiro estudo, há mais de 20 anos, que mostrou ser possível melhorar aspectos comunicativos e funcionais de crianças autistas, ensinando novos comportamentos (acredite, mas até lá, achava-se que o autismo não tinha tratamento!). Durante anos, foi considerado tratamento-padrão.
- As técnicas usadas lá atrás seguem válidas, porém a forma de utilizá-las mudou muito. Antigamente, ABA era sinônimo de criança sentada numa mesinha e cadeira, contra a parede para não fugir, repetindo diversas vezes uma mesma tarefa. Hoje, a abordagem é cada vez mais “naturalística”, deixando a criança mais livre e, com isso, mais motivada para aprender.
- O Denver (ESDM) foi desenvolvido anos depois e ganhou fama em 2012 quando foi eleito um dos 10 grandes avanços na medicina pela Time Magazine. Mas ele é apenas uma das abordagens ou programas (certamente o mais popular e o que mais se disseminou no Brasil) que utilizam técnicas de ABA em um contexto mais naturalístico, guiado pelos interesses da criança e desenvolvido para ser aplicado por uma equipe multidisciplinar, com a participação de pais, professores e práticas em cenários não-clínicos.
- Hoje, a evidência é toda favorável à utilização de abordagens que combinem princípios da ciência do desenvolvimento infantil (+Denver) com a ciência do comportamento (+ABA). A isso chama-se intervenções naturalísticas desenvolvimentais-comportamentais (Schreibman et al., 2015). É isso que deveria estar sendo prescrito.
Logo, se a criança estiver recebendo um Denver corretamente aplicado, estará fazendo ABA. Se estiver fazendo um bom ABA, estará usando uma abordagem mais naturalística. Em ambos os casos, certifique-se de que os pais estão sendo também treinados para utilizar as técnicas em casa.