Enquanto no desenvolvimento típico é natural para a criança dividir a cena com o adulto, ou seja, que os dois estejam com a atenção voltada para a mesma coisa ao mesmo tempo, para a criança autista a reação natural é oposta: é afastar o adulto – evitar ou resistir ao desconforto causado pelo olhar, pelo contato físico ou pela interação com o outro. Desse fechamento para o outro, advém várias das consequências negativas do autismo, já que a criança deixa de aprender sobre o mundo ao não observar, trocar e compartilhar experiências e vivências com o outro.
Por volta dos 12 a 18 meses, os bebês tipicamente têm esse desejo de mostrar o que querem, apontar para pedir um brinquedo, trazer objetos do quarto para mostrar (compartilhar) ao adulto. Quando a criança não demonstra esse interesse, é fundamental começar a agir e o ponto de partida é criar na criança a ideia de que estar junto (dividir a cena) é bom e divertido, ainda que pareça desconfortável no começo.
A primeira coisa a fazer é observar a criança. Em que momentos ela está mais acessível, mais relaxada e receptiva? Anote!
- quando você está fazendo cócegas nelas
- quando você canta pra ela
- quando você faz brincadeiras físicas, de jogar pro alto ou rolar no chão
- quando ela está comendo algo que ama
- quando ela está pulando na cama elástica
- quando ela está no banho
Podem ser essas ou outras circunstâncias. Uma vez que você tenha identificado esses momentos, use-os para mostrar a criança como é bom interagir, como comunicar-se vale a pena e traz recompensas.
- Encourage a criança a tocar em você e crie uma resposta que ela considere divertida (p.ex., quando ela toca no seu nariz, você faz “biiii” e põe a língua pra fora). Faça isso de forma repetida, de tal forma que ela entenda a relação causa-efeito (mesma ação, mesma resposta).
- Quando vocês estiverem em uma brincadeira que ele gosta muito, faça uma pausa longa (geralmente mais longa do que você acharia confortável!) e espere a criança fazer algum gesto para indicar que ela quer que a brincadeira continue. Fale algo como “você quer mais? Sim” e continue. Isso pode ser feito também enquanto vocês dançam juntos, com a criança no colo.
- Tape seu rosto e, ao tirar as mãos, faça uma cara engraçada. Cada vez que a criança destapar seu rosto, faça uma cara diferente. Às vezes, usar tinta, batom, pode criar a atração que facilita que a criança olhe para o seu rosto. Isso pode ser feito também com uma almofada tapando o rosto ou escondendo-se atrás de móveis. Faça pausas longas e espere alguma comunicação (com o corpo ou com a voz), indicando que a criança quer mais. Siga a brincadeira como forma de recompensar/premiar a criança por ter sinalizado a sua vontade.