Se você é como eu, não sabe ler uma partitura. A maioria de nós, sem treinamento musical, olha os símbolos e no máximo reconhece ali algum padrão visual. Se fossemos ensinados, com toda a paciência, a correspondência de cada uma daquelas formas com uma nota musical, ainda assim, olharíamos para a página e não tiraríamos dali nenhuma melodia, nenhuma memória, nenhum ritmo, não entenderíamos a música. Podemos aprender a qual nota cada símbolo corresponde, mas ler uma partitura nos deixaria apenas cansados e frustrados com a experiência.
Pois é assim para a criança disléxica. A dislexia nada tem a ver com inteligência, preguiça ou falta de empenho. É uma questão de processamento central – ou cerebral, se preferir. Todo estímulo que recebemos do ambiente (sons, imagens, cheiros, sensações) entra por uma série de vias perceptivas nervosas e é levado até o cérebro. Os olhos, a pele, os ouvidos são cheios desses receptores, que captam as sensações e as conduzem até o nosso processador central – o cérebro. Ali, esses estímulos precisam ser transformados e ganhar sentido, através de um complexo mecanismo de relações e associações com conhecimentos prévios, que fazemos sem perceber, como que espontamentamente, naturalmente. Para algumas crianças, contudo, esse processamento do sinal que vem das letras não acontece. Elas olham e tem dificuldade de mapear a letra ao som e, por isso, leem de forma lenta, custosa, cheia de erros e, cansadas, não conseguem entender o sentido do texto. É como você e eu olhando as notas musicais: a música simplesmente não toca na nossa cabeça.