Todo mundo já ouviu essa frase antes. Ela é verdadeira tanto para crianças típicas quanto para crianças com TEA. A grande diferença destas é que elas se engajam menos ou com maior dificuldade nas brincadeiras, como se não tivessem interesse ou não quisessem ser “importunadas” pelas tentativas do adulto em brincar com elas. E com isso, perdem infinitas oportunidades de aprendizagem. A cada minuto.
Entenda o seguinte: no desenvolvimento normal, as crianças aprendem fundamentalmente por observação e imitação. Existe um componente biológico de base, necessário mas não suficiente para o desenvolvimento e, sobre ele, atuam o ambiente e as pessoas. (Casos extremos e raros de bebês vítimas de negligência, abandono ou privação nos ensinaram que um corpo sozinho, sem estímulo, se desenvolve de forma gravemente anormal).
Crianças típicas vêm ao mundo equipadas com uma propensão inata e biologicamente determinada de socializar – elas se interessam por tudo que os outros fazem: o que eles dizem, como se movimentam, os objetos que pegam, como comem, como colocam os sapatos – as crianças estão observando tudo o tempo todo. E aí, à medida que seus sistemas neurológicos maturam e as permitem executar elas mesmas essas ações de forma independente, elas vão praticando e tornando-se cada vez mais hábeis em reproduzir tudo aquilo que durante múltiplas oportunidades elas foram armazenando e construindo na sua memória. “Criança é como esponja”, já não dizia a sua avó?
As crianças autistas, por sua vez, não têm esse interesse “social”, enquanto dotação biológica. Elas vêm desequipadas desse drive, desse interesse natural de absorver tudo que os outros estão fazendo. São a antítese da Maria-vai-com-as-outras. Elas ignoram que a Maria existe. Essa é a questão social está na raiz do problema e dela derivam uma série de outros, como o atraso na linguagem, na cognição, o interesse restrito, etc. Entendem? Como elas vivem no seu próprio mundo e lá se sentem bem e felizes (sim, felizes, saiba disso!), elas com frequência estão indiferentes ao que acontece aqui e agora.
Mas você sabe que aqui fora tem tanta coisa… e você queria que seu filho aproveitasse e não se privasse desse mundão de oportunidades que a vida oferece. Pois bem, tenha paciência. Muitas vezes, quando você tentar se aproximar com um “vem, olha aqui”, lembre-se que, ainda que com a melhor das intenções, você está sendo intrusivo e poderá ser rechaçado. Entender o que está acontecendo, o que está por trás desse comportamento, já facilita o processo. Daqui para frente eu espero que você não só entenda, como respeite e procure quebrar esse isolamento de uma forma correta, prazerosa e positiva para todos, criança e adultos.
Existem diversas técnicas para vencer essa barreira (ao longo dos posts vou destrinchando uma a uma). Tente não ficar frustrado – e principalmente, irritado – se seu filho não quiser brincar com você num primeiro momento. Ao contrário de crianças típicas, que amam a atenção dos adultos e fazem tudo para chamar a atenção deles e copiar o que os outros estão fazendo, as crianças com TEA geralmente não estão nem aí e vai ser preciso muito jeito para contornar esse “estilo” e tornar a sua brincadeira e a sua participação atrativa. Mas vale a pena!