Felizmente, os pais têm procurado cada vez mais cedo avaliação e diagnóstico para as crianças que apresentam alguma alteração no desenvolvimento. Quando a criança já é maior, tem mais de 3 anos, o diagnóstico de TEA (ou não TEA) costuma ser simples ao olho treinado e à escuta atenta.
Quando a criança é bem pequena, abaixo de 2 anos, eu costumo explicar para os pais que o diagnóstico é mais complicado ou, tecnicamente, que tem menor “estabilidade temporal”. O que isso quer dizer? Que, com o passar do tempo, alguns sinais típicos do autismo que a criança pode apresentar, p.ex. aos 17 meses, podem vir a desaparecer aos 24m, porque as habilidades da criança ainda estão se desenvolvendo a todo vapor. Por isso, embora possível em alguns casos, pode ser precipitado dar um diagnóstico abaixo dos 2 anos – especialmente quando muitas outras habilidades parecem estar se desenvolvendo de forma adequada.
Uma das coisas que mais chama atenção das famílias e traz preocupação aos pais é a falta de resposta quando a criança é chamada pelo nome. “Ela não olha!” O nome técnico disso é falta de “atenção compartilhada” (AC) e ela se apresenta de duas formas:
– no responder à atenção compartilhada: quando alguém diz “olha lá… o passarinho”, “Pedro, olha aqui o cavalo” e a criança não olha para onde o adulto está tentando direcionar sua atenção;
– no iniciar a atenção compartilhada: quando algo novo e surpreendente chama a atenção da criança (p.ex., um brinquedo novo com luzes piscantes), o esperado é que ela busque no rosto do adulto a resposta dele àquele objeto (compartilhando a emoção daquele momento, daquela descoberta). Além de olhar pro adulto, que seria a resposta mais básica, idealmente, espera-se que a criança reaja fazendo sons (ou falando) e/ou faça gestos, como apontar ou mesmo entregar o objeto para o adulto, como forma de compartilhar aquela experiência.
Acontece que a atenção compartilhada – especialmente a auditiva (quando a pessoa tenta ganhar a atenção da criança somente falando, chamando pelo nome ou dizendo algo) – mesmo no desenvolvimento típico está em franca construção entre 12 e 24 meses. O fato da criança não ter AC antes dos 24 meses, ainda que preocupe, não significa que a criança é autista, especialmente se o desenvolvimento da linguagem estiver também atrasado. Imagine que se eu falar “cholomp” você também não tem ideia do que eu espero como resposta. Se a criança tem esse tipo de dificuldade, vale usar mais recursos – combinando voz, gesto e olhar para direcionar a atenção para onde se deseja (falar, virando o corpo, o rosto e estendo o braço e o dedo indicador, p.ex). Assim fica mais fácil para a criança “captar” a ideia de que o adulto quer que ela olhe alguma coisa no ambiente. Na dúvida, busque avaliação especializada.
No gráfico, o eixo X mostra a idade em meses. Os crescimentos das barras mostra o quanto as crianças avançam nessa habilidade com a idade, e o quanto a resposta à AC auditiva é inferior à combinada ou multimodal, em que o adulto aponta, fala, gira o corpo, etc.