A regra número um é descubra o que deixa seu filho feliz. A imensa maioria das crianças vai abrir um sorriso com alguma atividade social-sensorial, uma brincadeira prazerosa envolvendo duas (ou mais) pessoas de forma conjunta, tipicamente sem o uso de objetos. Exemplos incluem brincadeiras no colo (cavalinho, deitar cabeça para trás, abrir as pernas para criança cair), cantigas e brincadeiras de roda, brincadeiras com os dedos (meus dedinhos, dona aranha, cadê o toicinho), com movimento (girar, jogar para o alto, atirar na cama), esconde-achou, pega-pega, polícia-ladrão.
Faça uma lista dessas atividades. Elas servirão tanto como atividade em si, para engajar seu filho com você e tirá-lo do isolamento (e, nesses momentos de engajamento, você entra com algum “ensinamento”) quanto como reforçadores (coisas que você vai usar como prêmio, para recompensá-lo por estar tentando aprender e fazer as coisas que você diligentemente está tentando ensinar.
Digamos que você descobriu que seu filho gosta de deitar na cama e, com você por cima, receber cócegas. Ótimo? O que você pode ensinar com isso? Muita coisa: a primeira, que está imbuída na própria brincadeira, é que brincar é uma atividade conjunta, de dois, em que um faz, outro recebe, o outro faz, o outro recebe, e assim sucessivamente. Isso ensina troca. Ensina que o mundo é de dois, ou mais, que é legal estar com os outros. Nenhum ensinamento é mais importante que este.
Mas fora isso, concretamente, o que você pode incluir: números, p.ex. Você pode ensinar contagem: “Um, dois, três e….<<cócegas>>”. Por estar motivado, esse 1-2-3 será escutado com muito mais atenção e, quem sabe, futuramente reproduzido. O prêmio (reforçador ou recompensa neste caso é o próprio ato de ganhar as cócegas).
Outro exemplo: digamos que seu filho gosta de ser pego no colo e ser carregado como avião pela sala. Você pode estimular sons (efeito sonoro “vruuuum”…, repetindo e premiando as tentativas dele de fazer qualquer som) e cores (cole círculos de cores diferentes na parede e faça “o avião” escolher em qual cor vai tocar; o mesmo pode ser feito com letras e números).
Essas atividades sensoriais devem ser intercaladas com atividades mais estruturadas, com o uso de objetos (brinquedos). Para estas, dê preferência por uma mesa baixa, em que ambos possam sentar frente-à-frente. Planeje previamente a atividade (do que vocês vão brincar), prepare o ambiente (deixando somente os objetos que serão usados) e seja flexível se a criança não demonstrar interesse inicial. Dê algum espaço para ver como ele explora o objeto primeiro. Lembre-se de observar, depois reproduzir e só por último tentar interferir, no sentido construtivo da palavra. Você quer ser um parceiro de brincadeira, não um líder, estilo chefe-manda.
O terceiro componente da “intervenção familiar” é tornar as atividades de rotina, do cotidiano, parte das oportunidades de aprendizagem. Na hora de tomar um suco ou comer um pão, observe que aspectos podem ser ensinados. Isso vale para tudo: vestir-se, tomar banho, escovar os dentes, arrumar o quarto, etc. Lembre-se de quando seu filho começou a caminhar: tudo é difícil, cada passo é comemorado e não se faz alarme quando a criança cai no chão. Agora não é diferente. Não dê atenção para o que deu errado, foque no esforço de fazer certo e no menor passo torto que foi na direção certa.