No desenvolvimento normal da criança, já a partir dos 9 meses, as crianças começam a intencionalmente fazer coisas para chamar a atenção dos adultos. Não porque elas sejam exibidas ou carentes, mas porque ganhar a atenção do adulto nesse cenário exerce duas funções centrais.
Primeiro, isso funciona como um teste de hipóteses. “Se eu derrubar esse talher, ele cai no chão e a mamãe pega”. O bebê derruba, a mãe pega. Ele faz de novo, para ver se acontece a mesma coisa, repetidas vezes. A resposta que a mãe dará nessa situação é fundamental. Se ela simplesmente pegar o talher do chão e colocar de volta na mesa, sem olhar para a criança, ou se ela sumir com o talher, indiferente ou refratária ao jogo que a criança está tentando construir ali, a comunicação se interrompe – e uma oportunidade de aprendizagem e vínculo se perde. Ao contrário, se ela pegar o talher, fizer uma expressão de “seu danadinho”, devolvê-lo a criança e entrar no jogo, ali estabeleceu-se uma base forte para a comunicação e a interação social.
O segundo ponto é que esse jogo é altamente recompensador para a criança. Não só ela vai percebendo que as suas ações têm uma consequência no mundo, que ela é capaz de agir e modificar o entorno (ou neste caso, o outro), mas ela se satisfaz com a resposta do cuidador. A cara da mãe, os gestos, o que ela diz em resposta à ação e, principalmente, a atenção recebida, tudo é uma recompensa. Daí a importância de que o cuidador que interage com a criança seja responsivo, ou seja, preste atenção e ofereça uma responda imediata às suas ações, gestos ou sons, sinalizando para a criança que alguém a percebe e busca entender ou acolher as suas necessidades. Que existe comunicação, atenção ao outro, afeto e reciprocidade. Do contrário, se a criança faz algo e o adulto não responde, ignora, há menos razão, interesse e motivação para seguir buscando essa relação, que deveria ser intrinsicamente prazerosa para os dois.