Se eu pudesse dar um único conselho às famílias com crianças pequenas que apresentam algum atraso no desenvolvimento, seja ele motor, de linguagem, de qualquer tipo, eu diria: elimine todas as telas da vida da criança.
A recomendação de todas as sociedades médicas e científicas internacionais é de que criança abaixo de 2 anos não deve assistir telas. Eu concordo, mas não sou radical. Acho que um pouco de tela ajuda os pais a lidar com a difícil tarefa de entreter, por 10 a 18h por dia, uma criança. Se a criança vai bem, seu desenvolvimento está adequado, ela prefere outros brinquedos à tela e não depende da tela para nada na sua vida, ótimo: não me preocupa que ela assista a Peppa Pig ou a Patrulha Canina. Até porque não existe evidência de que um pouquinho de tela faça qualquer mal à criança. Mas tudo tem limite e equilíbrio é a palavra-chave.
Agora, se a criança vem demonstrando problemas de comportamento, atraso na fala, dificuldade para dormir à noite… aí as coisas são diferentes. No consultório, nenhuma outra medida parece tão efetiva quanto orientar as famílias a desligar as telas. Como num passe de mágica, é preciso voltar a conversar, a interagir, a brincar. É preciso inventar brincadeiras, valorizar as coisas banais do cotidiano, tudo vira motivo para estar junto, conviver e aprender.
Um dos maiores efeitos de uma rotina sem telas é sobre o sono. Subitamente, parecer que dormir antes das 22h vira algo natural. A casa fica calma à noite, a monotonia se instala e dormir surge como uma saudável opção. E uma criança que dorme bem, fica menos irritada, menos agitada e aprende melhor.
Então, se você ainda deixa a televisão ligada para fazer companhia, repense e, por favor, desligue.