Tá chegando abril, o mês de “conscientização” sobre o autismo. No passado, já achei que o mais importante era conscientizar sobre diagnóstico precoce. Hoje, minha pauta é outra.
Poucos livros, artigos ou casos me ensinam tanto quanto ouvir os próprios autistas falando sobre autismo, principalmente no Twitter. A chamada lived experience, a experiência vivida, cada vez mais valorizada no universo acadêmico – onde está virando quase proibido fazer pesquisa sobre autismo sem antes perguntar aos autistas o que eles pensam sobre os objetivos da pesquisa. Cada pesquisa milionária que já foi derrubada pela comunidade de autistas… coisa mais bonita de se ver. Essas pessoas, ativas e combativas nas redes sociais, são fontes incríveis de informação, trazendo a perspectiva que só quem já teve ou tem uma dada condição é capaz de oferecer.
Uma das coisas que eles falam, a propósito, é contra a “conscientização”. Segundo eles, autistas não estão necessitando de reconhecimento, mas sim de acolhimento, aceitação. Você descobriria, p.ex., que autistas têm verdadeiro ódio de ABA (nem preciso explicar porquê) e consideram o método traumático e abusivo. Eles falam, p.ex., sobre o absurdo que é exigir que a pessoa com autismo “olhe nos olhos”, o quanto isso é desconfortável e ansiogênico, servindo apenas para tentar “adequar” a interação ao nosso estilo, ou seja àquilo que é esperado por pessoas neurotípicas.
No Brasil, existem menos vozes ativas, mas para quem tem interesse, recomendo de olhos fechados o maravilhoso podcast Introvertendo, que tem (olha só) o irônico slogan “um podcast onde autistas conversam”. Cada episódio é focado num aspecto e, para os pais, recomendo começar ouvindo o episódio sobre autismo não diagnosticado na infância. Muito legal. Ouçam os autistas, eles têm muito a dizer.