É 2023 e finalmente estamos chegando ao ponto de começar a conhecer melhor as trajetórias das crianças diagnosticadas precocemente com autismo, já no prisma mais contemporâneo daquilo que chamamos de TEA, alinhado ao DSM-5 (que é de 2013). Ainda não chegamos à adolescência, mas já dá para ter uma boa ideia do que ocorre entre a primeira infância e o ensino fundamental 1.
Resumindo a literatura, o achado é o seguinte: metade das crianças diagnosticadas entre 1-3 anos segue estável ao longo da infância, até por volta dos 11 anos (linha azul no gráfico). Não melhoram muito, nem pioram dos sintomas. Outras, em torno de ¼ das crianças, tem uma melhora considerável (verde), principalmente na idade pré-escolar (antes dos 6 anos). As demais, os outros 25% (em vermelho), tem um aumento dos sintomas ao longo do tempo e gradativamente vão se tornando mais distantes do desenvolvimento típico.
Um dado interessante é que a gravidade do quadro ao início, entre 1-3 anos, não prediz o futuro da criança. As crianças que melhoram podem tanto já ter quadros leves de início quanto serem mais “graves” quando pequenas.
Dois fatores são importantes na tentativa de tentar predizer o futuro: QI e comportamento adaptativo (ou seja, autonomia, independência para tarefas diárias). A inteligência aparece nesses estudos como o fator mais importante – crianças com QI mais alto ao início e/ou que aumentam seu QI significativamente entre 1-6 anos são as que se saem melhor. Já o comportamento adaptativo, ao início, não importa; mas as crianças que vão piorando nesse quesito são aquelas que, em geral, terão trajetória mais negativa, com piora dos sintomas.
Por fim, vale destacar: tempo de intervenção (quantas horas, por quanto tempo) não se mostrou um fator relevante nas análises!
Pais mais velhos e mais escolarizados foram também associados a melhores desfechos para as crianças, assim como sexo feminino (meninas mais frequentemente exibem trajetórias mais favoráveis).
Há ainda muito a se investigar e a adolescência é um período onde outras mudanças relevantes nessas trajetórias são esperadas. É aguardar para ver.
Referências:
Waizbard‑Bartov. Trajectories of Autism Symptom Severity Change During Early Childhood. Journal of Autism and Developmental Disorders, 2021
Waizbard-Bartov. Identifying autism symptom severity trajectories across childhood. Autism Research, 2022
Szatmari. Developmental Trajectories of Symptom Severity and Adaptive Functioning in an Inception Cohort of Preschool Children With Autism Spectrum Disorder. JAMA Psychiatry, 2015