Prescrição de terapia é algo bem complicado. O que esse paciente precisa? Que tipo de terapia, que profissionais, qual método, com que frequência, por quantas horas, por quantos meses? Nada disso existe pré-fixado, como receita de bolo. A indicação de qualquer tratamento – terapias inclusive – deve ser totalmente individualizada.
Quem diz isso não sou eu. São as diretrizes internacionais todas. A ideia de que toda criança com diagnóstico precoce de TEA – estabelecido entre 2 e 3 anos – precisa de 20 horas de terapia, seja Denver, ABA ou o que for, é um equívoco. A alegada superioridade das terapias intensivas é embasada no senso comum, no espancamento de conceitos como “neuroplasticidade” e “poda neural”, e em alguns poucos estudos que, metodologicamente, são insuficientes para fazer afirmações taxativas dessa ordem.
O que é verdade é que algumas crianças têm atrasos e dificuldades tão importantes, que nenhuma terapia de baixa intensidade dará conta de ajudar de forma significativa. Aquela criança que com 2 anos ainda não brinca, só atira coisas no chão ou coloca na boca; que não fala nada; que não entende, não aponta, não obedece; que tem crises frequentes – essa criança tipicamente vai precisar de um programa de estimulação completo – o que pode representar 20h de intervenção sim. Até mais.
Já a criança de 2 anos, com TEA, que fala, que entende, que brinca de tudo, que imita, que come e dorme bem, que frequenta a escola com prazer, que participa da maior parte das atividades, esta precisará ser avaliada em maior detalhe para ver o que pode ou precisa ser auxiliado. Estabelecer prioridades, objetivos, focos. No que o TEA está atualmente interferindo no dia-a-dia? Personalizar o trabalho com base no que é – de fato – uma dificuldade para aquele paciente. Nem sempre os atrasos da criança são indicações de terapia. Nem todo sintoma precisa de intervenção específica.