:: Leia sem paixões. Não estou aqui para defender ou condenar nada, apenas para esclarecer meu ponto de vista::
O estudo, dirão, nem é muito relevante, é com camundongos – mas é assim mesmo, a passos lentos, que a ciência se constrói. Trago ele aqui porque ele ilustra perfeitamente o motivo pelo qual eu recomendo cautela com CBD em crianças.
O que ele mostra é que o uso crônico de doses baixas de THC tem efeitos benéficos sobre uma estrutura específica dos neurônios (dendritos) em camundongos “idosos”, mas efeitos negativos sobre essas mesmas estruturas em camundongos jovens.
Por que isso é relevante? Primeiro, porque mostra (mais uma vez) que os efeitos de uma droga X sobre o cérebro imaturo podem ser totalmente diferentes dos efeitos observados em adultos. Ou seja, nada do que já foi descrito como benéfico para adultos necessariamente sinaliza benefício na criança; mais do que isso, pode até ter o efeito contrário.
Segundo, porque a imensa maioria dos produtos vendidos como canabidiol contém em sua formulação doses baixas de THC – o componente psicoativo da maconha (o que “dá o barato”). E, até prova em contrário, os efeitos do THC sobre o cérebro imaturo são negativos e indesejáveis. Quantos anos a ciência levou até descobrir a associação entre uso de maconha na adolescência e o desenvolvimento de quadros psicóticos em adultos geneticamente suscetíveis?
O uso do canabidiol na infância é absolutamente justificável dentro de alguns quadros. Epilepsias intratáveis, refratárias a todas as medicações “convencionais”, por exemplo. Foi nesse contexto que se começou a estudar o CBD na infância: crianças acamadas, com centenas de crises convulsivas semanais, com vidas absolutamente limitdas pela sua condição neurológica. É o chamado uso compassivo – quando parecem não restar opções e o risco do incerto é aceitável, tamanha a gravidade do problema. Agora, já em contextos mais leves, para tratar quadros comportamentais, a conversa é outra.
Existe um mercado multimilionário no entorno de tudo isso, não se engane. Não existe relação entre preço do medicamento e sua efetividade. Digam o que quiserem, a extensão e a profundidade do conhecimento científico sobre o canabidiol na infância é pequena, de curto prazo e pouco confiável neste momento. Espero que os anos provem que essa é uma opção boa e segura para tratar quadros de ansiedade, hiperatividade, irritabilidade ou o que for na infância ou na adolescência. Sei que quem sofre não tem anos para esperar. Mas o fato, simples e direto, é que ainda faltam evidências.