Há alguns dias, a mãe de um paciente me disse: “Essa coisa de dia das mães na escola, eu abandonei faz dois anos; decidi: não vou”. Ela me deu — sem que eu pedisse explicação — alguns porquês, todos eles perfeitamente razoáveis e compreensíveis. Embora uma pontinha da dor que ela sentia por aquela abdicação forçada ainda fosse perceptível, o sentimento que predominava ali era claramente positivo. Era uma mulher madura, segura das suas decisões (mesmo as difíceis), capaz de fazer um julgamento objetivo de uma questão que envolve tantas camadas de subjetividade. Eu fiquei feliz por ela. E ao mesmo tempo pensei em tantas outras que escolhem o outro caminho (ou são levadas?) e vão na bendita festinha, atravessando essa experiência com coragem e sofrimento.
A mim obviamente não compete julgar a decisão de ninguém. Ir ou não ir deveria ser uma decisão individual livre; mas não é. Escrevo só para dizer que mães atípicas deveriam se sentir à vontade para dizer “eu não vou”, “não me faz bem”, “não me sinto bem”, “não é bom pra mim, nem pro meu filho” — mas não vejo isso acontecendo. Vejo elas se cobrando, sendo criticadas e muitas vezes empurradas num faz-de-conta que não é bom para ninguém.
A forma como a escola celebra o dia das mães diz muito sobre a escola, acredite. Aquelas apresentações de palco, com as crianças ensaiadas para cantar e dançar, são uma atividade absolutamente despropositada, quando não danosa. Criança não tem que dar show para ninguém. Qual o objetivo daquilo? Nesse aspecto, ergo as mãos aos céus pelas escolas que escolhi para as minhas filhas. Nunca passei por isso. Dia das mães é para ir na sala de aula, sentar na cadeirinha deles, recortar papel, lanchar junto, ganhar um cartão cor de rosa. É tirar um tempo para dividir a experiência diária que eles têm na escola – só isso. O resto é teatro.