Não existe sair do espectro. Existe deixar de preencher critérios formais para um diagnóstico de autismo. São coisas bem diferentes.
Uma pessoa é do espectro porque durante o seu neurodesenvolvimento inicial – da vida intrauterina até os primeiros anos de vida – certos aspectos da sua organização cerebral se configuraram de uma forma singular. Isso não muda. Ao longo da vida, porém, o cérebro dessa pessoa ainda vai mudar, seu comportamento vai mudar e, consequentemente, os sintomas irão mudar. Cada pessoa, autista ou não, é diferente em diferentes momentos, e a forma como o indivíduo é capaz de se adaptar ou se organizar em torno da sua característica individual e do seu ambiente (e como o ambiente se adapta à pessoa!) é o que determina o impacto, o prejuízo e, em última instância, a presença ou ausência final de um diagnóstico clínico.
Sem sofrimento e sem prejuízo, o indivíduo manterá sua característica autista como “personalidade” ou “jeito de ser”. Feliz e bem adaptado, isso deverá ser lido e interpretado pelo profissional como um traço, uma característica, e não como um transtorno mental. O mesmo acontece com TDAH, por exemplo. Nem todo mundo que é hiperativo tem transtorno hipercinético ou de hiperatividade. A criança pode ser hiperativa na infância e, mais tarde, não mais preencher critérios para um diagnóstico clínico. Algo dessa característica ainda será observável na vida adulta, às vezes de forma até benéfica, mas não havendo intensidade e prejuízo não mais se falará em transtorno.