Quem me conhece sabe que há muitos anos, mesmo antes de ser médica, eu já era uma apaixonada por questões de desenvolvimento infantil. Depois que virei pediatra e neuropediatra e mãe (a melhor escola!), me apaixonei ainda mais por esse universo, que é fascinante tanto na saúde quanto na doença.
O autismo é uma condição enigmática, sobre a qual ainda sabemos pouco. São crianças cujo cérebro é estruturalmente normal, mas cujo funcionamento é significativamente diferente, particularmente num aspecto que é muito tocante: o interesse pelo outro, o interesse social.
Essa atração por pessoas é algo muito biologicamente inato – ao nascer, os bebês já demonstram esse comportamento, fixando mais tempo o olhar em rostos humanos do que em objetos. Nós somos (em maior ou menor grau) seres sociais e quando essa “orientação social” não está lá, várias coisas se perdem em decorrência disso – o aprendizado da linguagem e da comunicação é o mais evidente deles.
Mas existem muitos outros sinais precoces de autismo e é fundamental reconhecê-los porque, hoje, felizmente, existem terapias bastante eficazes para corrigir esses déficits e recondicionar a orientação social das crianças, base necessária para todo o desenvolvimento.
Ficam aqui 9 sinais de alerta para o transtorno do espectro autista (TEA), cuja identificação precoce se dá, principalmente, pelo reconhecimento de déficits na comunicação social antes dos 24 meses de idade:
- Compartilhamento de emoção: sorrir quando o adulto sorri, dividir a emoção por um acontecimento novo, uma sensação nova, buscar no rosto do adulto a reação dele quando algo inesperado acontece.
- Contato visual: uma certa tendência a não olhar nos olhos, evitar o contato visual com adultos.
- Resposta ao nome: antes mesmo de 1 ano, é esperado que a criança responda quando chamada pelo nome.
- Busca por atenção: não buscar, querer, provocar ou dar um jeito de ganhar a atenção dos pais. Ficar bem demais sozinho, brincando com suas coisas, sem a necessidade de ninguém.
- Atenção compartilhada: olhar para onde os outros estão olhando é uma capacidade básica. “Olha o avião”, “Olha ali o passarinho” – a criança deve olhar para onde os outros estão olhando.
- Gestos: apontar é o gesto comunicativo mais importante. Não apontar é um sinal de alarme. Ausência de outros gestos simbólicos (tchau, beijos, não sei, cadê) também são sinais de alarme. Antes de falar, as crianças usam gestos.
- Interesse em objetos: maior interesse por objetos do que por pessoas é talvez o principal marco nessa faixa etária.
- Expressividade facial: pouca expressão facial, ausência de caretas, mímicas, brincadeiras com o rosto e a língua; ser capaz de expressar emoções com o rosto.
- Imitação: saber ou tentar imitar o que os adultos fazem é essencial para as crianças. Para imitar, é importante estar atento ao que os adultos fazem e imitar é uma das bases pelas quais as crianças experimentam e aprendem coisas.