Muito se tem discutido sobre os riscos associados à exposição, cada vez mais precoce, das crianças às telas. Enquanto nos anos 1970 as crianças passavam a assistir televisão regularmente aos 4 anos, a média de idade atual para o início do contato com eletrônicos é de 4 meses. Ainda que centenas de pesquisas, de maior ou menor qualidade científica, já tenham se debruçado sobre o assunto, ainda há poucas afirmativas categóricas sobre riscos e benefícios.
Contudo, isso não nos exime de estarmos atentos aos comportamentos decorrentes do hábito de, regularmente e precocemente, as crianças ficarem em frente a tablets, celulares e à televisão. A pergunta não é o que a tela faz, mas o que a criança deixa de fazer. Absorta no brilho de uma tela luminosa – cujo conteúdo vai de benignas canções de ninar até a franca e abusiva publicidade de brinquedos – a atividade principal das crianças, brincar, termina ofuscada em segundo plano.
Em tempos de intolerância, autoritarismo e excesso de prescrições sobre o que é certo e errado na complicada tarefa de criar filhos (na qual todos desejamos acertar, mesmo quando erramos), muitas famílias se veem perdidas frente às decisões sobre eletrônicos na infância. Poucas são as que conseguem seguir as recomendações das sociedades médicas – zero tempo de tela até 2 anos, 1 hora por dia até os 5 – e acabam se sentindo desnecessariamente culpadas por estarem distantes das metas preconizadas.
Mais do que se preocupar com o número de horas, é essencial estar atento à interferência das telas no cotidiano: nas refeições, nos passeios, na hora de dormir, de ir para a rua. Não é difícil perceber os muitos momentos em que a (oni)presença da tela termina subtraindo pequenas, mas inúmeras, oportunidades de conviver, interagir ou simplesmente estar junto dos nossos filhos. Como as crianças modelam seu comportamento a partir de suas referências pessoais e familiares, é preciso que os pais olhem para o seu próprio uso de eletrônicos e ajustem suas expectativas conforme o modelo que estão construindo. Equilíbrio é a palavra-chave. Há hora para tudo, mesmo quando parece não haver mais tempo para nada.