Eu sou abertamente fã do método Denver de estimulação precoce. Bem conduzido, acho que ele é uma forma extremamente gentil e prazerosa de estimular a comunicação e a interação social, a reciprocidade social e habilidades básicas de comunicação e imitação – que precisam ser estimuladas de forma mais ostensiva ou sistemática em crianças no espectro do autismo ou com outras formas de atrasos sócio-comunicativos ou sócio-emocionais.
Mas nem todas as crianças tem indicação de Denver. Primeiro, o método é indicado apenas para crianças pequenas, de até 4 anos (daí o nome Early Start Denver Model). Todo o currículo de habilidades e a forma de apresentar os estímulos são pensados para bebês e crianças pequenas. Segundo, ele depende de um certo nível (talvez “tipo” ou “estilo”) de organização e funcionamento pessoal por parte da criança que nem todos os pacientes tem.
Clinicamente, o que eu observo é que quanto mais próxima do funcionamento neurotípico é a criança, maior a probabilidade de uma abordagem como o Denver funcionar bem. Crianças no espectro autista com características pessoais marcadamente neurodiversas (p.ex., muita alteração sensorial, muito baixa orientação social, forte predominância de comportamentos repetitivos) costumam ter mais dificuldade ou menor rendimento terapêutico em metodologias naturalistas. Friso que esta é minha opinião (não há evidência científica nesse sentido), mas sei que essa ela é compartilhada por muitos colegas.
O que oferecer para estes? Escrevo mais sobre isso aqui.