Tudo começa pela motivação. Uma criança desmotivada, ou talvez seja melhor dizer desinteressada, não vai se engajar em nada que você apresentar, não importa quão lindo, caro e piscante é o novo brinquedo que você comprou. E se ela não engajar, você já sabe, ela não conecta e não aprende.
Então a primeira coisa que você deve fazer é observar – deixe a criança te mostrar no que ela tem interesse. Veja para onde ela olha, do que se aproxima, o que ela pega ou tenta pegar, como ela manipula e explora o objeto. (Em outro texto comento sobre as questões sensoriais, mas lembre-se de estar atento a isso: algumas crianças inspecionam visualmente os objetos, como se olhassem com o canto dos olhos; outras passam a mão ou esfregam no rosto, buscando a textura; outras são fascinadas por sons ou luzes e outras ainda são repelidas por essas sensações – e é muito importante que você saiba o perfil sensorial do seu filho).
Mas voltando à busca pelo interesse da criança. Lembre-se de desacelerar: dê um passo para trás, relaxe e observe. Não fique tentando enfiar goela abaixo as suas atividades, prioridades e boas intenções o tempo todo. Isso só desgasta. Uma criança típica vai querer brincar com o que você apresentar e tiver nas mãos, a autista tem suas próprias motivações. Experimente deixar à sua vista e alcance de 3 a 5 brinquedos apropriados para idade e veja o que acontece. Sua função agora é analisar. Você precisa ser um expert no comportamento do seu filho. Preste atenção e assegure-se de conhecer quais as preferências e aversões do seu pequeno.
Posso escutar alguém dizendo: “meu filho não se interessa por nada”. É incomum, mas acontece de algumas crianças terem níveis muito baixos de energia e pró-atividade. Elas tendem a ficar paradas, alheias e indiferentes aos estímulos e às pessoas no ambiente. Neste caso, eu pediria para você tentar 3 coisas. Primeiro, certifique-se de que o ambiente não é hiper-estimulante para a criança, de forma que esse comportamento não seja uma resposta a um ambiente que está sobrecarregando a criança sensorialmente (considere fontes de luz, som, movimento, pessoas e objetos no ambiente).
Se o ambiente está ok, então tente essas duas abordagens:
- Brinquedos sensoriais: pianos, maracas, chocalhos, flautas, lanternas, bolhas de sabão, gelecas, slimes, balões, pompons, água, areia. Esse tipo de brinquedo costuma atrair a atenção das crianças do espectro (e das típicas, claro, mas essas se interessam por qualquer novidade)
- Brincadeiras físicas: tanto as brincadeiras leves, com a ponta dos dedos, quanto as mais agitadas, tipo rodopiar ou jogar a criança para o alto, costumam funcionar. Experimente. Brincadeiras leves incluem cócegas, dedos que sobem pelo corpo (“dona Aranha”), “meus dedinhos”; dentre as agitadas (feitas com o devido cuidado, claro), tente coisas como erguer a criança no alto, rodar, brincar de cair/derrubar, atirar na cama, balançar, etc.
Espero que em alguma atividade você encontre o sorriso e capture a atenção do seu filho. É ali que está a brecha você entrar.