Agora que vocês se encontraram, você precisa aproveitar esse momento – porque nós sabemos que ele não vai durar para sempre (na verdade, não vai durar mais do que alguns minutos). Mas vamos lá, aproveite que você está no foco. E calma, vai melhorar.
A primeira coisa a fazer é eliminar a competição. O ambiente físico pode ser uma grande distração e interromper esse momento de forma mágico. Vídeos, televisão, coisas se mexendo, pessoas se movimentando ou falando junto, tudo compete pela atenção da criança e inadvertidamente podem terminar atrapalhando. Você precisa ter o controle da situação. Tire brinquedos e outros competidores da cena.
Agora entenda que a comunicação social, esta que nós praticamos todos os dias “naturalmente” entre duas (ou mais) pessoas, é baseada não só em palavras, vocábulos ou sons que saem da nossa boca, mas em uma série de elementos não-verbais que estão envolvidos no ato de se comunicar e transmitir uma mensagem a outra pessoa. Vem do olhar, da mímica facial, da postura e do movimento do corpo, da entonação da voz…. tudo comunica algo e a gente (geralmente) consegue ler essas pistas. Seu filho não.
Digo isso para que você se lembre de simplificar a sua comunicação. Não sobrecarregue a criança com coisas difíceis de “ler” ou entenda que ao fazer isso você está adicionando uma camada de complexidade. Assim, evite indiretas, ironias, dupla negação (você não vai querer que eu não faça…).
Além disso:
- Posicione-se de maneira que você e a criança estejam frente-a-frente. Você quer que ela olhe para os seus olhos e boca (e ela tipicamente vai olhar para outro ponto qualquer). Se preciso for, pegue os objetos em que ela está interessada, brinquedos, figuras, o que for – e os aproxime do seu rosto, colocando-os ao lado da sua boca, para direcionar o olhar da criança para a sua face. Mesmo lendo um livro, o que costumamos fazer lado-a-lado, tente ficar de frente. Sente-se no chão, para ficar na altura da criança, deixe ela segurar o livro enquanto você aponta, nomeia, faz os sons dos animais, etc. Pode ser que ela também curta ficar sentada nas suas pernas – é uma ótima posição para brincar. E se você ainda não tem, compre uma mesinha infantil, com cadeiras do tamanho da criança e com encosto.
- Comente. Você é um narrador da cena. Nomeie o que vê, o que a criança está fazendo, use efeitos sonoros, carregue no afeto, mas não exagere no tamanho ou complexidade das frases. Seja simples, mas animado.
- Faça-se útil, sem interferir. Abra tampas, aproxime objetos, entregue peças. Você pode armar o terreno para ser útil – p.ex., colocando as peças em potes que vão exigir ajuda para serem abertos ou deixando as peças ligeiramente fora do alcance da mão.
- Brinque em paralelo, imitando o que a criança está fazendo, na frente dela. Melhor ainda, se possível, é criar objetivos comuns: cada um coloca uma peça, o seu carro bate no meu e o meu bate no seu, eu monto a torre, você derruba… No topo da hierarquia, o ideal é que você seja capaz de refinar a brincadeira, tornando-a mais um tantinho mais interessante do que o seu filho vinha fazendo. P.ex., ele está lá empurrando carrinhos no chão, para frente e pra trás. Você pega OUTRO carrinho (não tire coisas da criança! Tenho brinquedos duplos ou triplos) e acrescenta uma rampa com um livro ou almofada. É a mesma brincadeira, com um toque a mais. E você, subitamente, tornou-se alguém mais interessante de estar junto.